terça-feira, 11 de dezembro de 2012

CALOR


I – Calor (ou “Empatia”)

            Há os que pregam que coincidências ou paridades são coisas que se constroem e/ou buscam. Eu também penso assim. E não nego ter buscado em alguém tão díspar tais analogias.
            Há ainda os que alardeiam que vemos no outro o que ansiamos ou tememos ver em nós mesmos, como uma espécie de espelho reverso, escolhendo assim amizades e desafetos. Reconheço e admito também isso. Só não saberia mesurar até que ponto fiz isso conscientemente ou em quais pontos ultrapassei limites de bom senso e, em verdade, não trago a mínima pretensão de me escusar por tais disparates.
            E não me surpreenderia se, em algum momento, eu fosse rechaçado.

II – 26° (ou “Encantamento”)

            Uma das razões que move o ímpeto humano é justamente a sua íngreme inclinação por desejar aquilo que lhe é vedado, mas tendo estabelecido esse parâmetro ele pode ser evitado e/ou subvertido. Então aprende-se não a desejar, mas a apreciar sem a necessidade do ter. Talvez ainda reste um quê indefinível entre algum ressentimento, frustração e impotência, mas – superados esses sentimentos menores – resta o alívio pela humanidade e pelo fato de se pertencer a ela em tempo hábil para a apreciação em seu maior esplendor, como um belo quadro ou uma bela foto ou escultura, ou um bom livro em tempo ainda de conhecer seu autor.
            Saber não poder ter tudo é um dos benefícios da maturidade dos mais caros.


08.04.2008

domingo, 2 de dezembro de 2012

MNEMOSINE E LETHE

[das lembranças que nunca foram]

Eu me lembro de quando você não disse que teríamos algo em comum, e aquilo me iluminou.

Me lembro também de quando você não disse que não teríamos mais nada, e aquilo me deixou realmente mal.

Mas me lembro perfeitamente de tudo o que você disse entre os dois momentos. E isso tudo me confunde e me dói e ecoará para sempre, pois a sua voz ainda é das poucas que eu sei diferenciar ao ouvir em meio a tantas outras.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

BRINCADEIRAS

Dúvidas de garoto que permanecem na adultescência:

Até que ponto vale a pena entrar em bola dividida, correr atrás de pipa voada e apostar só com uma bola de gude no bolso?

Conduzir ou mesmo roubar uma bola são coisas que não se nasce sabendo, a gente tem que praticar e, para isso, algumas brincadeiras eram fundamentais. Para aprender a roubar a bola do adversário, nada melhor que o "bobinho", cuja premissa era não ser bobo, ou seja, aguardar e esperar o momento certo em que um dos adversários passasse a bola mais desleixadamente ou perdesse o domínio dela por algum momento. Eu era até bom nisso... Para conduzir, a brincadeira era menos inocente. O "pé na moela", para quem não conhece, consistia em pura e simplesmente encher de chutes quem estivesse com a bola e, diferente do "bobinho", tinha que se chegar ao gol. Aprender a desviar de chutes na canela e a suportá-los era de grande valia. Tudo isso também ensinava a seguinte lição: "bola dividida, NUNCA!". Se a bola está lá, paradinha, só há duas opções: pegá-la antes que alguém pegue ou esperar alguém pegá-la para roubá-la da pessoa. Agora, irem dois (ou mais) para tentar alcançá-la ao mesmo tempo... meu amigo, isso não tem como acabar bem, especialmente se você for um garoto pequeno.

...nunca soube soltar pipa mesmo. Aliás, minto! "Soltá-las" era o que eu fazia de melhor! Ainda tinha a manha de ter que passar cerol... as manobras para não deixar nenhum outro cara torar ou aparar. Mas o problema mesmo era quando voava. "Tem carro da rua!" era o menor dos males. Era aquela horda de moleques que, fossem teus amigos ou não, imediatamente davam a sua pipa como "perdida" e seguia-se a máxima clássica do "achado não é roubado" somada ao "tá na mão", que sempre resultavam em "é meu, já era!". Meio complicado para um garoto pequeno, e exponencialmente pior quando caía na rua de trás... os moleques da rua de trás... Além do quê, correr atrás de pipa voada cansa! Sempre me soou como um dos mais inúteis esforços.

Bola de gude, a sinuca da infância! tudo só depende de sua habilidade, capacidade de estudar as possibilidades, os ângulos, os movimentos do adversário... ou você se garante dentro da sua cabeça ou perde, e a derrota será sempre justa, pois não importa o tamanho total ou mesmo o tamanho do polegar. Entrar em uma partida de mata-mata com só uma bolinha, em búlica com três bolinhas e em triângulo só com duas bolinhas no chão e uma no bolso te davam as mesmas chances de ganhar (ou perder) que qualquer outro. E tinha-se que conhecer tudo, todo tipo de terreno, terra, areia, grama, cimento; se a sua bola da sorte tinha alguma característica especial, tinha que se conhecer bem cada aspecto. Não importava ser uma criança pequena.

Bola de gude sempre foi o meu preferido, e eu sempre descia para jogar com apenas uma no bolso.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

IDAS E VINDAS


Por você eu iria até Plutão
Iria até Marte
Iria até Vênus
Iria até a Lua

Por você eu iria até a China
Iria até a Austrália
Iria até o Zaire

Por você eu iria até Amsterdã
(só para me entorpecer)
Iria até Paris
(até aí, nenhum sacrifício)
Iria até Roma
(já que todos os caminhos levam até lá
talvez todos os meus levem até você)

Por você eu iria até o Acre
Iria até Roraima
Iria até mesmo a São Paulo

Iria até o centro da cidade
te buscar de ônibus
Iria até o mercado
te comprar café
Até a farmácia
te comprar aspirina

Iria até a sala
abaixar um pouco o som
Iria até a cozinha
te buscar um copo d’água

depois voltaria para o quarto
voltaria para a cama

mas só por você

domingo, 11 de novembro de 2012

UM AMOR PARA SEMPRE

Um amor para sempre, ma belle? Pleno? Mútuo? É isso mesmo?
Melhor que ninguém, você deveria saber que isso não passa de literatura. Romantismo. Século XIX. Feito para entreter senhoras. Que caiu em desuso. Foi suplantando pelo Realismo. E não é o que acontece sempre? O realismo detalhista e esquemático se sobrepondo qualquer ilusão romântica que possamos ou sonhemos ou ousemos ter? Será que vale tanto a pena querer crer nisso?
Quando você usa a sua voz para me dizer aquele pequeno trecho daquela canção _"je préfère, de temps en temps, je préfère le gôut du vin, et le gôut étrange et doux de la peau de mes amants, mais, l'amour... pas pour moi"_ seus olhos grandes me dizem de verdade que você sabe o que existe e o que não.
Um amor para sempre, ma belle? De verdade? É isso mesmo?
E o que a gente está chamando aqui de "pra sempre"? Algo que vá perdurar pela vida inteira? Além disso? Algo que vá nos fazer sofrer quando isso que é efêmero, isso que é transitório, isso que é carne, se for? Estamos falando do quê? De almas gêmeas? Alguma parte não mortal em nosso ser? Transcendência?
Por que você me sugere essas idéias, ma belle? Por que você me faz perguntas que sabe que só podem ser respondidas com outras ainda mais duvidosas e punitivas? Eu confio em você para não me respondê-las. Para me olhar, sorrir e dizer "é isso, né?" e marcarmos um chopp para aproveitarmos o gosto estranho e doce da pele de nossos casuais amantes conhecendo bem o risco disso.
Um amor para sempre, ma belle? Acho que nem na amizade, mas ainda é o que mais se aproxima disso, n'est-ce pas?

sábado, 3 de novembro de 2012

TEU CHEIRO NO MEU TRAVESSEIRO


Certos clichês que os poetas já nem mais usam são resguardados somente ainda nas pobres rimas pobres das canções populares, que dependem delas de modo quase escravizado pelo ritmo, pela melodia, tudo isso que exige uma métrica e que se impõe, e é justamente essa escravização dependente dessa pobreza limitadora que torna a expressividade dessas canções muito direta, e é essa diretividade que atinge de modo certeiro os seus ouvintes, de modo ainda mais contundente que os poemas ditos mais elaborados aos seus leitores, autoproclamados mais capazes.

Tudo isto dito, devo revelar que não farei um poema nem comporei uma canção, apenas usarei uma velha e gasta rima para iniciar meu texto, que tratará não apenas das aproximações sonoras dessas palavras.

“Teu cheiro no meu travesseiro”. Toda vez que olho para ele me ocorre essa frase. Acho terrível. Parece trecho de uma daquelas músicas cafonas de dor de cotovelo que meu pai gosta de ouvir ou, ainda pior, algum sertanejo dessas duplas cujo cantor principal parece estar sempre disposto a explodir seus próprios pulmões ou gargantas e, consequentemente, o meu ouvido. Mas enfim, a frase me é inevitável, ela já vem pronta. E o travesseiro é teu, ele apenas mora aqui, com a muito cruel tarefa que eu tinha como minha e que transferi para ele, que é te esperar. E ele é um encarregado muito melhor do que eu a cumprir tal função. Ele fica lá, calado em sua natureza de coisa inanimada, não sabedor nem mesmo de sua destinação natural, que é simplesmente servir de apoio para a cabeça durante o sono. E eu aqui o tornando uma espécie de guardião de minhas poucas memórias e parcas esperanças e nenhum sonho.

Eu só o vejo quando abro aquela parte do armário destinada às coisas que não são tão cotidianas, mas ele está lá, não exatamente ao alcance da minha vista, mas eu o busco. Já aprendi a só tirá-lo de lá em caso de quase certeza. Estou tentando eliminar o “quase”. Acho que é por saber que, neste dia, ele não sairá de lá nunca mais. Antes eu o sacava mais inadvertidamente, o posicionava onde eu achava que ele deveria estar, o que seria o seu lugar real, e tentava buscar o efeito da frase que sempre me vinha e me vem. Fazer dele minha proustiana madeleine, evocar memórias por aromas, mas a verdade é que nunca tive algum sucesso nisto.

O que é teu cheiro? É o teu xampu? É o teu perfume? É o teu suor? É a mistura deles? Seja lá qual for, se forem todos, ele não está lá. Quantas vezes seria preciso para que ele se fixasse? Ou seria o hábito? De todo modo, eu sabia que não foram vezes suficientes, mas ainda arriscava e culpava meu falho olfato pelos insucessos. Sei que não era. Conheço teus cheiros e a memória deles. Teus cheiros e teus sabores. Gosto deles em você, gosto de senti-los em você, mas longe se tornam rarefeitos, ainda que eu tentasse preservá-los na proteção plástica que serviria originalmente para mantê-lo livre de poeira. Mais uma vez inverto a função dos incautos objetos. O que protegeria contra o que poderia estar fora agora é carcereiro do que deveria estar dentro.

Teu travesseiro, que só é teu por eu tê-lo feito assim. Que não é meu, apesar de minha posse dele, mas que jamais deixarei de tê-lo. Tão teu quanto as minhas memórias de você.

Ele está lá. Diferente de mim, ele está mudo, guardado, protegido. Diferente de mim ele ainda espera, espera para mim que sei que já não mais me é dado esperar. E um dia ele perderá a rima e seu cheiro será um cheiro que eu já conheço e reconhecerei bem e que me é familiar e habitual: o cheiro das coisas há muito guardadas sem uso em um canto de armário.

Mas ainda guardará alguma poesia e(m) suas penas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PROTOPOEMA DAS COISAS QUE SÓ SE PODEM IMAGINAR


Sem rimas com o seu nome. Isto seria fácil demais,
Simples demais, bobo demais, moleza!
Colocando as cartas na mesa
Não há pior lugar comum, falando com toda franqueza!

...

Acróstico?
Não!
Detesto!
Recurso
Esgotado!
Zombaria!
Absurdo!

...

Descrições parnasianas
Da sílfide pós-bucólica
E suas doiradas melenas
Em estrutura simbólica
Tornar-se-iam apenas
Verborragia melancólica.

...

O que resta então a este poeta
Que se deu a missão de escrever para ela?
Não muito além de imaginar
E de se confundir
E de indecidir inclusive sobre o quê
Ou como escrever.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

TEORIA DA COINSPIRAÇÃO


“Sonho que se sonha junto é realidade”

Tudo o que me cerca vem carregado de uma quantidade tal de informações que temo não ter capacidade de filtrá-las.
Imagens, palavras, cheiros, sensações, cacofonia, policromia, sinestesia.
Pensamentos.
Tudo transborda em pensamentos, não só o que é humano, pois o que é coisa também me vem como ideia e como a ideia do pensamento como sendo a coisa-em-si.
Sinapses.

Assimilar cada estímulo _concreto ou abstrato_ e metabolizar, realimentando todas as sensações já existentes em mim e sendo também um retransmissor, tornando-me (ou continuando) um núcleo e uma unidade de tudo, pois eu também estou ao meu redor.

Ah, essa permeabilidade que me permite absorver, devolver e transitar... tão vital e tão tóxica. O que me nutre e o que me mata tão similares e só o que os diferencia é o que eu escolho fazer de cada um.

Essa juventude carregada de sentimentos estreantes e ineditismos tão antigos. Essa velhice carregada de experiências e neurastenias sábias e desgastadas. E eu em meio a isso tudo.

Inspiro. Carrego meus pulmões de ar e de poeira e fumaça. E devolvo ao ar mais veneno. Eu e tudo o que respira e inspira. E as coisas.
Me inspiro. Me encho de tudo. Pleno. E devolvo, às vezes ainda cru. Não assimilado.

E sigo. Compartilhando o mesmo ar de tudo o que me cerca. As cores e sons. Concretudes e pensamentos. Apenas sendo.

Pessoa e coisa. Unidade e todo. Ainda e também.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

SIMPLES II (ou Coletânea Sensorial Não-verbal Translada e Resumida em Signos Lingüísticos)


Teus olhos grandes de um castanho vivo e longe.
Tuas mãos pequeninas de dedos suaves.
Uma contradição.
Não conseguires conter tudo aquilo que percebes.

Meus olhos pequenos e míopes de um castanho comum
permanentemente distraídos e protegidos por lentes externas.
Minhas mãos grandes de dedos longos moldadas e habilitadas
a cumprirem uma função específica.
Uma frustração.
Não conseguir perceber o que está ao meu alcance.

Não opostos, mas complementares.

Tua fala acelerada, entrecortada,
veloz e ricocheteada como um átomo
solto em um ciclotron
esperando colidir e fragmentar-se.
Uma urgência.
A pressa pela juventude adiada.

Minha quase mudez grave e rouca
interrompida por longas, lentas e verborrágicas análises,
como um livro de contos embolorado
em uma estante empoeirada de alguma biblioteca.
Uma conformidade.
A constatação da maturidade já premente.

Mais que características, quase caricaturas.

Até o encontro de olhos
Que não se buscam, mas se mesclam,
De mãos que se encaixam
e se protegem.
De lacunas
que se preenchem.
De toda um pluralidade
que almeja o singular.
De dois, que são variantes,
a um, que é binômio.
De conjuntos
que se intercedem
e do novo conjunto
formado pela interseção.

De tudo o que se pensa
A tudo o que se vive e sente.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PLANOS II


Diz que vai me dizer tuas verdades
Me conta o que há para contar
Sorri para mim cada sorriso teu
Me abraça o que há para abraçar
E conta comigo o que for para compartilhar

Cada ponto,
Cada vírgula,
Cada verbo de ligação,
Cada oração coordenada,
E nosso texto, como uma ata,
Não terá parágrafos
Pois, ainda que digressivo,
O assunto será uno: nós.

E o que for de chorar,
De entristecer, de lamentar,
De silenciar, de calar até,
Não chore para mim.
Não silencie para mim,
mas comigo,
Pois cada momento teu
Peço que seja também meu.

Faz o que for para se fazer
Sente o que for para se sentir
Sonha o que há para se sonhar
Me beija cada beijo teu
E fica comigo cada instante que há para se existir

E o que é breve,
O que é fátuo,
Sirva apenas para pontuar e relevar
O enredamento dessa trama perene
De modo a nos lembrar
Que o efêmero
Só passa com a permissão do esquecimento.

Me apresenta o que é teu
Que não sou eu,
Pois o meu eu já é teu
E já o apresentaste a mim.

30/06/2007

terça-feira, 31 de julho de 2012

PLANOS


Guarda, meu amor,
Meus beijos nas tuas mãos
E eu guardo cada olhar teu.
Leva contigo
Cada palavra minha
E eu trago comigo
Todos os teus sorrisos.
Apreende cada ação minha
E eu assimilo cada gesto teu.

E que essa disparidade
Possa ser, por nós, compensada
De modo que o ponto intermediário
Convirja, mas não anule os extremos.

Fica, meu amor,
Com cada toque de minha pele na tua
Que eu levo comigo
Cada sensação e o desejo
Até o próximo toque.
Junta cada momento nosso
Que eu somarei a todos os outros momentos
Para construirmos nossa história juntos
E que esses fragmentos
Formem uma história só.

E que cada despedida
Possa ser, por nós, amenizada
De modo que cada novo encontro
Comemore-se, mas não anule a saudade.


10.07.2007

domingo, 29 de julho de 2012

CLAREAR


Pouco me importa
O barulho das ondas preguiçosas
Da Baía da Guanabara
Ou o vento frio
Que corta, no outono, a madrugada
Ou o céu que vai deixando
De ser azul marinho
Para se tornar cada vez mais claro
E púrpura no horizonte.

Pouco me importam
Os pescadores,
Os esportistas,
Os carros que passam,
As peculiaridades, humores
E as imperfeições
Dos que me são alheios.

Pouco me importa
O que era,
O que é,
O que será
Ou o que poderia ser.

O que me importa é que,
naquela noite,
naquele amanhecer,
Eu pude ver de frente seus olhos castanhos
clarearem com o dia,
Pude aquecer seu frio
com o meu calor para te emprestar,
Pude ouvir sua voz
dizendo meu nome com candura,
Pude olhar seu andar
e acompanhar seus passos,
Pude ser o que fui
e o que fomos
com toda a entrega
e com todas as promessas de eternidade
que poderíamos e pudemos ter
Naquela noite
e naquele amanhecer.

E saber que, nesse tempo,
Talvez tenha sido tudo
o que poderia ser.

07.05.2007

sábado, 14 de julho de 2012

NEOLOGISMOS

Certos dias (ou noites, na verdade) acabo ficando assim.
Não vou dizer "pensativo"...
seria mais para "lembrativo" ou "lembrancento" ou qualquer neologismo que o valha.
"Memorioso"...
"Recordaciento".
Não, não é "saudosista"... uma palavra já existente não exprimiria a particularidade da sensação ou da situação.

15.07.2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

PORQUE EU NÃO DESACREDITO EM JESUS, SÓ NO QUE FALAM DELE

1. "Garrincha chamava todos os seus marcadores de 'joão' por não fazer diferença quem seria a marcá-lo."

Mito. O que aconteceu foi que, na Copa de 58, Garrincha, aquele rapazote do interior, não fazia ideia de como se pronunciavam os nomes daquele monte de gringos que iriam marcá-lo. Não era e nem se tornou um hábito. 

2. "Michael Jackson compôs 'Ben' para o seu rato de estimação, que era seu único amigo e que foi morto por seu pai como castigo."

Mito. Quem compôs "Ben" foram Donald Black e Walter Scharf e sim, a canção era sobre um rato, mas era apenas uma música de encomenda para um filme homônimo de suspense no qual um menino tinha o tal rato como amigo. Dado curioso: Michael foi o "reserva", a canção não fora feita para ele, que apenas substituiu quem seria o intérprete original.

3. "Ozzy Osbourne soltava morcegos no palco e arrancava-lhes as cabeças a dentadas."

Mito. Uma vez alguém jogou um morcego no palco e Ozzy, achando que era de brinquedo, o mordeu (o que lhe causou diversos problemas de saúde). Ah! O lance de arrancar a cabeça da pomba aconteceu de verdade, mas foi porque ele queria justamente fazer troça com o incidente do morcego. Coisas do METAL....

mas... e o item 4?

Sim, eu sou ateu desde que me lembro e SIM, tive uma fase de "busca espiritual" em que, mais que efetivamente acreditar, eu QUERIA acreditar. Bem... eu não consegui, mas não me ressinto, aliás, aprendi duas coisas importantes: a respeitar mais e a questionar ainda mais. Esta fase foi breve, do fim da adolescência ao começo da juventude (entre os 17 e 23 anos, para ser mais específico).

O que escreverei aqui é uma espécie de "resposta" ao que vejo muita gente de bem fazendo por aí em ambos os lados, o dos que creem e o dos que não creem.

Eu não vou dizer que eu realmente acredite em Jesus, mas não vou negar que gosto muito da ideia da existência desta pessoa um dia no mundo e que tal ideia me é não apenas verossímil como perfeitamente possível.

Duvidar ou ainda não acreditar na existência de Jesus me soa como não acreditar na existência de Sócrates. Ambos só chegaram ao nosso conhecimento através de relatos de seus discípulos e mesmo de seus críticos... mas alguns dirão: "Platão e Aristófanes tiveram contato direto com Sócrates; Mateus, Marcos, Lucas e João não!". É, eu sei, mas vamos combinar que a Grécia era bem mais adiantada em produção literária que a Galileia, que aparentemente preferia a transmissão oral de conhecimentos. 

Consideremos também um dos outros argumentos do pessoal do "Jesus não existiu": falta de registros. Bem... Tanta gente por aí nasce, cresce, faz coisas muito legais e morre sem ninguém saber hoje no Brasil ou nos EUA ou na Alemanha, o que se dirá há dois mil anos em uma terra de gente iletrada. E tanta gente tem seus registros postos em dúvida por terem sido feitos em um modo ultrapassado ou que pereceu. Não duvidem, eu nasci na capital do Rio de Janeiro, em um de seus maiores bairros (a Tijuca), em um hospital do governo, pior: em um hospital MILITAR, e tive que "atualizar" minha certidão de nascimento pois ela havia sido preenchida à mão e eu poderia perdê-la. Hoje tenho uma versão feita por uma impressora, mas acho que falta uma "alma" a ela.... enfim, divagações...

Não duvido que uma figura do porte e com as ideias de Jesus e chamado Jesus tenha andado por aquela área naquela época. E não duvido que as pessoas falassem muito a seu respeito. É aí que entra o verdadeiro problema... já diz o velho ditado: "quem conta um conto aumenta um ponto". Imaginem então a história de um cara que pode ter sido uma grande insurgência religiosa sendo recontada por uma ou duas gerações até que alguém resolvesse colocar por escrito! Belo fator de complicação, hein!

Pensemos nos exemplos anteriores. Mané Garrincha ainda era vivo quando surgiu a "lenda dos joões" e ela permanece até hoje, mesmo ele mesmo tendo desmentido a história. Michael Jackson era só um cantor, mas há quem chegue a atribuir milagres a ele, o que se dirá uma história sobre uma música. Ozzy é uma figuraça que se alimenta e se promove com histórias desse tipo; ele as nega, mas se diverte a valer com cada uma dessas!, não é à toa que ele se intitula de "o príncipe das trevas"! SAVE OZZY! E eu nem falei da Lady Di! 

Pensemos um pouco, meus caros, e vou usar as metáforas futebolísticas que tanto prezo... quantas vezes vocês não não ouviram alguém contar que um jogador de futebol "driblou o time todo" para fazer um gol? Ou talvez que ele tenha tido que "passar por umas 40 pessoas para chegar ao gol"? Sabemos que em campo só há 23, certo (22 jogadores e o árbitro)? Essas afirmações são mentiras? O jogador não driblou mesmo vários adversários e não fez o gol? Não sabemos que é só um exagero? Não sabemos diferenciar a verdade não da mentira, mas da invenção? 

4. "Jesus Cristo andou sobre as águas."

Ao ler tal passagem, eu não duvido que ele tivesse ido ao barco dos amigos pescadores mesmo sendo um carpinteiro. São amigos, ora! Estava lá, no alto do monte e veio a tempestade, era noite, o amigo foi salvar o pessoal que estava na água, houve desespero, os alcança, Pedro cai na água, E AGORA, JESUS? Tampouco duvido que Jesus tivesse sabido como manter a calma e resgatar o amigo à deriva como um verdadeiro salva vidas, animando o amigo com palavras como "estou aqui", "eu te ajudo", "me dê a mão", "não solte", e coisas do gênero (em aramaico, claro). Mas quando leio que "Jesus foi ter com eles caminhando sobre a água" e que ainda desdenhou do afogamento de Pedro ("Homem de pouca fé, porque duvidaste?") ao invés de alguém que disse ao amigo se afogando "cara, não desiste, tenha fé, estou aqui, nada vai acontecer de mal" e que pessoas inteligentes e de bem preferem acreditar nisso... eu fico confuso. Não em relação a Jesus, mas em relação ao que acontece com as pessoas desde tempos imemoriais: preferir acreditar em uma história fantástica que cria mitos ao invés de perceber a beleza da simplicidade das histórias reais. É a mesma ideia de que as pessoas querem dar um "beijo de cinema" (ou um "orgasmo de cinema", não é, revista NOVA?) ao invés de dar um legítimo beijo amoroso sem enquadramentos perfeitos, giros de câmera, maquiagens e posicionamentos marcados dos atores.

Não duvido da religiosidade de Jesus. Talvez ele realmente se considerasse o filho do deus no qual acreditava, talvez ele usasse isso para reforçar a sua imagem como líder de sua religião, talvez apenas as pessoas dissessem isso dele. Eu só sei que a quase totalidade do que ele disse eram coisas sobre tolerância mesmo com quem não lhe era partidário religioso (lembram da samaritana? pois é), amizade, respeito para com todos, humildade, e todas essas lições ele as deu sem precisar de nenhum milagre e eu gosto da figura dele por conta disso e da firmeza de alguém que parece ter se doado inteiramente ao que acreditava sendo isto algo bom e digno. Em caso de dúvidas, consultem a Bíblia com olhos atentos. Minha mãe sempre me ensinou a não aceitar respostas prontas e que não é só porque algo está escrito é verdade. Todo mundo pode escrever qualquer bobagem. Mesmo eu. Mesmo com a melhor das intenções. Especialmente com alguma intenção premeditada.

Um abraço.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

MARCHA DAS VADIAS

Antes de começar o meu texto eu gostaria de esclarecer certos pontos que eu pediria que não saíssem do pensamento dos amigos que se aventurarem a ler.

1. NENHUM homem, mas NENHUM MESMO, tem o mínimo direito de abusar de uma mulher.
1.1. Entenda-se por abuso as abordagens sexuais não autorizadas.
1.1.1. Autorizada vale (quase) tudo (afinal, quem sou eu pra dizer que certas coisas que aparecem na revista NOVA não funcionam?).

Ok, tendo dito isto, comecemos.

"A Marcha das Vadias é um movimento internacional de mulheres criado em abril de 2011 na cidade de Toronto, no Canadá, em resposta ao comentário de um policial que disse que, para evitar estupros no campus, as mulheres deveriam parar de se vestir como “sluts” (vadias, em português)." [LEIA AQUI]

As palavras do tal policial são algo que, sem sombra de dúvida, merece o repúdio de toda a sociedade. Eu gostaria de crer que estamos todos de acordo com a ideia de que quem causa o estupro é o homem e não a mulher, pouco importando se ela está nua ou de burca. E é isto que deve ser posto em questão. O meu ponto é: tenho visto muitas moças por aí que, por mais bem-intencionadas que elas estejam na defesa de seus direitos, andam confundindo um pouco a razão de tal defesa. Como?

"Mulheres ofendidas contam o que acontece quando os homens pensam que a roupa é um convite" [LEIA AQUI]

 A reportagem cita vários exemplos, alguns casos de violência e, só a constar, ocorreram inclusive em lugares ditos "civilizados" como Paris, mas esta foi a menor parte da matéria. O foco era a "confusão" que uma roupa pode causar em interpretações alheias. A entrevistada principal, Simone Grazielle, produtora de eventos, fora confundida com uma prostituta em um desses eventos (compreenda-se "casa noturna/boate paulistana altas horas da noite") por estar vestindo short e bota e por ter "caprichado na maquiagem". Estejam os ainda leitores atentos ao fato de que ela foi apenas ABORDADA. Não foi agredida nem estuprada. Ela se ofendeu simplesmente por ter sido confundida com uma trabalhadora de um setor que não era o dela. Sim, por menos que algumas pessoas gostem ou reconheçam isso, prostitutas são trabalhadoras e o tipo de roupas e maquiagem que elas usam são como seus uniformes de trabalho, permitindo que elas sejam reconhecidas como profissionais. Aí eu pergunto: "Se ela fosse uma prostituta, ela poderia ser abordada?" Claro que sim! E o possível cliente DEVE perguntar quanto é o programa. O que ele não pode é achar que, por ela ser uma prostituta, ela seja automaticamente obrigada a ter sexo com ele. Uma premissa simples em qualquer tipo de prestação de serviços: o prestador só é obrigado após o contrato ser firmado e estabelecido. Simples assim. Prostitutas não merecem ser tratadas com respeito por serem mulheres. Merecem ser tratadas com respeito por serem PESSOAS.

 Retomando o ponto "as roupas"... Ser confundido com outra coisa por conta dos trajes... quantas vezes eu já não vi ou mesmo aconteceu comigo. Punks sendo confundidos com mendigos; gente de branco sendo confundida com médico... recentemente, no Recife, eu estava em uma loja em um shopping com um amigo e uma moça veio me perguntar o preço de um determinado item. Ora, como eu saberia? Mas eu fui olhar um dos funcionários o estabelecimento e lá estava ele de camisa cinza de botões, calça azul marinho e sapato preto. Bom, minha calça era jeans, mas eu não poderia culpar ninguém pela confusão ou mesmo me sentir ofendido, eu estava "uniformizado" no ambiente de trabalho alheio, o que me move a perguntar: Qual é a real ofensa em, não havendo nenhum tipo de agressão, ser confundida com uma prostituta?

 Outro ponto no qual discordo de algumas das motivações de algumas apoiadoras da Marcha é: O que diabos e uma "vadia"? Não vou dar uma de inocente e fingir que não sei, mas esta é a questão a ser aprofundada. Um cara usa um termo idiota, falemos deste termo. "Slut", que não significa "vadia", mas que em sua origem etimológica tem mais a ver com "suja". A tradução do termo por "vadia" se deu obviamente pela conotação sexual depreciativa ser similar. Em nossa (ocidental, pelo menos) linguagem machista, "sujeira" e "ócio", no que se referem às mulheres têm uma ligação com "sexo". Não vou tentar mudar o nome da Marcha, não é isso. Apenas acho um tanto estranho. Soa para mim como se o movimento negro resolvesse fazer a "marcha dos macacos" ou os gays a "marcha das bichas (ou "dos viados")" ao invés de suas manifestações serem pelo uso correto de termos que não firam a dignidade do que representam. Quando eu vejo uma mulher dizendo, ainda que em uma postura da linha "a melhor defesa é o ataque", "somos todos vadias", eu penso: "será que ela se acha realmente superior a alguma outra moça que tenha optado por ser mais livre sexualmente?". Eu não sei, não apenas questionamentos.

 Mais um ponto atinge diretamente essas moças que têm uma relação mais solta com o sexo. Pessoal, não vamos esquecer uma coisa fundamental aqui: ROUPAS COMUNICAM SIM! Quando nos vestimos de determinados modos estamos dizendo um pouco de quem somos, de nossas preferências, de nossa "tribo". Sabemos quando vemos um rockeiro, um funkeiro, um pagodeiro, um "mauricinho", um "playboy" e por aí vai... E o que nós temos a ver com o modo como as outras pessoas se vestem? Errou que respondeu "NADA"... e também acertou. Nós buscamos identificação com o nosso jeito, mas se não há essa identificação, aí sim não teremos nada a ver com isso. E há moças que gostam de expressar sua liberalidade sexual através de suas vestes e ELAS TÊM TODO O DIREITO DISSO. Eu posso achar um pouco demasiado, posso achar que "ela não é moça pra mim". O que eu não posso achar é que 1. ela é uma "vadia" e 2. que ela ser assim me dá direitos automáticos de abordá-la com contatos sexuais sem a sua permissão. E eu tampouco posso achar que ela não deva se vestir assim... e vem a questão: Os homens devem permanecer totalmente anestesiados a uma mulher que se vestiu PARA FICAR BONITA/SEXY? Cobiçar uma mulher se tornou o grande pecado ao feminismo de hoje? Na mesma matéria citada anteriormente: " 'Será que se eu transar no primeiro encontro ele vai me achar uma ‘vadia’? E se eu vestir uma calcinha fio dental, ele vai pensar que sou dada?' " Estas são dúvidas femininas? Ou são dúvidas de mulheres que se preocupam demais com o que homens machistas pensam? E, repito, qual o real problema em ser mais "proativa sexualmente" (o eufemismo aqui foi inevitável, perdão) e querer e gostar de expressar isso inclusive com suas roupas? Devemos nós (homens) nunca mais repararmos em vocês?

 Por fim, eu apenas gostaria de dizer que acho a manifestação e o modo como ela é feito muito válida. Quando uma mulher sai sem camisa ela mostra que o mostrar ou não do corpo é menos que uma questão de "tabu social": é somente uma questão de CONTEXTO, e é em nome desde contexto que eu peço que algumas revejam suas motivações particulares sem perderem o ímpeto da manifestação e da busca pela igualdade e de exporem como certos julgamentos podem efetivamente ferir as pessoas e até matá-las, literalmente.

 Não, minhas queridas amigas, vocês não são vadias e nem as "vadias" são vadias. Assim como eu não sou um macaco por ser negro. Assim como um homossexual não é uma bicha. O nome da passeata não me choca, apenas me confunde.

Um beijo deste aqui que tanto ama as mulheres.

Pode começar o apedrejamento.

sábado, 26 de maio de 2012

OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS?

Enfim vou me pronunciar sobre o assunto da semana antes que a semana acabe e surja um novo tema e o anterior se torne fatalmente ultrapassado nestes tempos de internet em que ontem já é "faz tempo". Tratarei do "caso Xuxa", ou melhor: "a celeuma em torno da entrevista da apresentadora Xuxa ao Fantástico".

Como o assunto é essencialmente televisivo, começarei com o mesmo esclarecimento que sempre faço: é de conhecimento de todos nos meus círculos que eu abdiquei quase completamente do uso de tal aparelho, sendo única e exclusiva exceção as transmissões do futebol.

Pois bem, tive conhecimento da tal entrevista pela internet quando esta encerrou-se (sim, eu não vejo tevê e não, eu não abro mão de estar conectado à internet quase nunca). Uma grade revelação havia sido feita: Xuxa fora abusada sexualmente na infância. [som de explosão]

A partir daí polvorosa total nas redes sociais e, como é dito nestas mesmas redes, "lovers gonna love and haters gonna hate", e foi o que ocorreu. A primeira onda de choque deste impacto foram declarações apaixonadas e pétalas de rosas de fãs que a consideram "rainha" e todas as pedras de quem a considera o contrário. Se há um tipo de animalzinho nocivo que eu não gosto é o tal do "fã". Eu já vi na parca zoologia que conheço animais cegos, animais surdos, animais que não se locomovem bem, mas este é um que é isso tudo junto e ainda consegue ser estridente! Deveria ser melhor estudado. Mas, quase empatado, ficam certos membros do "clube do contra" (confesso, eu às vezes tenho uma certa simpatia por eles). É uma espécie com mais variantes que os fâs, mas que tem dentro deles uma subdivisão que acaba com a fama de todo o resto: o que reclama só para reclamar. Não interessam quais ou mesmo se há razões. Ele é tão do contra que chega a ser contraditório. Odeia a Globo, mas não perde um programa e ainda reclama quando a Globo deixa de fazer algo e coisas do tipo. Mas essa foi só a primeira fumaça que vem, ainda cheia de detritos.

Logo após, começam a surgir as piadas, as defesas mais "racionais", a configuração com o ambiente em volta começa a se restabelecer e é aí que a gente começa a ter real noção do que foi tal entrevista.

Como dito acima, sou um "morador" da internet e percebi, não lembro se antes ou depois da declaração de Xuxa, que uma campanha do Disque 100 e outra sobre o mesmo tema (abuso sexual infantil) começou a ser veiculada nos anúncios do YouTube antes dos vídeos, uma animação digital muito bem feita, dessas que levam meses para ficarem prontas. E também houve um aumento/reforço nas campanhas para denúncia nas ultimas semanas. Coincidência?

Talvez infelizmente para mim eu não acredite muito em coincidências. Acaso? Sim. Coincidência? Nunca. Muito menos na mídia. Resolvi ver a entrevista.

Eu sou um dos que não gosta nada da figura da Xuxa, mas eu não podia dizer nada a partir do que ela declarou. Foi uma entrevista de uma celebridade (como tantas outras que eu desconsidero) falando se sua vida (como a vida de tantas outras pessoas famosas ou não que eu igualmente desconsidero), e com algumas declarações de impacto que eu, que desconheço (e desconsidero) a pessoa, não tenho o mínimo suporte para dizer serem coisas reais, mentirosas ou meramente fantasiosas... mas há um ponto específico: tenho que desconsiderar minha desconsideração pela existência da "pessoa física" e me concentrar na "pessoa pública", e esta sim, eu quase sempre considerei nociva, só que, mesmo assim, eu não teria muito a falar que não pudesse ser rebatido com os argumentos de sempre dos seus defensores mais rasos: "canalhice e inveja" (http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/posts/2012/05/23/sobre-xuxa-canalhas-invejosos-446509.asp). Permaneço em meu silêncio sobre o assunto (quebrado apenas em conversas mais íntimas, né, Christiana?) e meu riso calado de alguns chistes.

Mas ontem o site da revista Época me trouxe uma nova abordagem do tema, fazendo ligações ainda "apaixonadas", porém evocando uma maior historicidade, contextualizações mais específicas, um certo apelo à racionalidade... e agora faço uma confissão: menti para vocês, amigos. Não falarei sobre a Xuxa. Falarei sobre "a defesa midiática de Xuxa feita por Cristiane Segatto" [http://revistaepoca.globo.com/Saude-e-bem-estar/cristiane-segatto/noticia/2012/05/xuxa-e-doenca-do-coracao-de-pedra.html].

A autora parte de um mote louvável: o incrível aumento do número de denúncias de abuso infantil após a declaração da apresentadora. Fatos são fatos. Fatos são contundentes. Fatos são irrefutáveis. Mas o que há por trás dos fatos?

Segatto diz que o impulso ofensivo de um determinado rapaz contra Xuxa foi movido por preconceito. "Contra a beleza, a riqueza e o sucesso. Se o mesmo depoimento, com as mesmas palavras, a mesma entonação, a mesma emoção saísse da boca de uma moça pobre e anônima provavelmente a reação do rapaz fosse outra."

Não, minha cara colunista. Se o mesmo depoimento saísse de da boca de uma moça pobre e anônima, não haveria reação nenhuma. Tal depoimento não estaria no Fantástico. Apenas isto.

É aí que começa a minha linha de raciocínio. A retomarei em outro(s) momento(s).

Cristiane fala sobre o passado sexista da apresentadora. Há poucos anos, também veiculada e alimentada pelas redes sociais, surgiu a lenda de que Xuxa teria 16 anos em "Amor, Estranho Amor", e que isto seria uma defesa válida para o que ela fez no filme. Bom, ela já tinha 18. Dizer que ela tinha 16 é como dizer que a Glória Maria tem 45 anos hoje. Mas a questão real é transformá-la em igualmente "vítima" da história. Quanto a filmes "de arte" com sexualização infantil nos anos 80, a Brooke Shields que o diga. Alguns poderiam contextualizar artisticamente tudo e dizer que não se pode pensar o filme anacronicamente, no que eu concordo. Mas entram aí os hercúleos esforços de Xuxa em tirar (judicialmente inclusive) de circulação todo e qualquer traço de sexualidade que ela possa ter tido antes do Xou da Xuxa como o filme (que, por favor, está LONGE de ser pornô, como alguns andam alardeando) e seus ensaios para as revistas Ele & Ela e Playboy. Não "pegam bem" para a imagem que ela vem construindo há décadas.

A autora também evoca outros ídolos sexuais da época, Gretchen e as Chacretes, mas parece que a colunista esqueceu-se de um detalhe muito pontual: embora elas aparecessem em seus maiôs sensuais em programas vespertinos, elas DE MODO ALGUM eram voltadas para o público infantil!

Por favor, chamar as roupas de Xuxa e Paquitas de "recatadas" foi uma tentativa de piada suja, né? Isto aqui [http://www.youtube.com/watch?v=3-xmyulHmL0] não era "recatado" nem nos bailes de carnaval igualmente citados na coluna!

Xuxa foi um mote para a construção de um público consumidor. As atrações infantis como "Arca de Noé", "Casa de Brinquedos", "Plunct, Plact, Zum" e os especiais d'A Turma do Balão Mágico eram bons, educativos, mas eram voltados às crianças... Eis o problema. Criança não consome. Não existe isso de "mercado infantil". Há um "público de crianças", mas elas não consomem. ELAS NÃO TÊM DINHEIRO. O dinheirinho que elas ganham dos pais seria para comprar figurinhas de álbuns e chicletes, mas nunca para comprar coisas mais caras como roupas, por exemplo. Então aparece a Xuxa. As mães querem ser bonitas como ela. Os pais querem tê-la. As crianças... bem, elas vão ver e ouvir o que seus pais a colocam para ver e ouvir. E havia desenhos animados legais. Tudo deu muito certo. O mercado estava feito e rapidamente consolidado. "Clones" de Xuxa em todas as redes de televisão e toda uma nova sorte de produtos é criada. Xuxa é um marco na economia brasileira.

Voltando a falar da construção e manutenção da imagem de Xuxa para as crianças, é até interessante perceber que ela realmente o faz com afinco. Movida pelo quê? Só ela sabe. Qualquer coisa que eu diga será achismo. Atenhamo-nos aos fatos.

"Xuxa Só Para Baixinhos" foi um empreendimento que me surpreendeu. Passado o asco que eu sentia da super-autoexposição de cada passo da gestação da apresentadora, desde a concepção até o anúncio do nascimento no Jornal nacional, ela se torna mãe e faz um projeto realmente BOM, realmente INFANTIL. Lembro de comentar na época com minha ex-mulher assim: "Veja só, Renata, como está a educação no Brasil. As coisas estão tão ruins que a gente pode chamar o trabalho da Xuxa de algo exemplarmente bom". Só que, passada a terceira edição do projeto, talvez (achismo) também pela Sasha ter crescido, tal empreendimento tornou-se também essencialmente comercial, deixando os aspectos educacionais em segundo (ou sexto ou sétimo) plano.

Enfim, não vou falar sobre a "emoção" do depoimento. Xuxa sempre me parece o mesmo robô de 6 anos de idade recitando "batatinha quando nasce" toda vez que abre a boca. Não vou falar que é mentira o que ela disse, que ela é maluca nem nada. Ela realmente pode ter passado por tudo o que disse, desde os abusos até ser pedida em casamento pelo Michael Jackson. Não vou duvidar do amor sincero dela por Ayrton Senna. Mas também não vou acreditar em nada disso.

Maria da Graça Meneghel é uma modelo. Uma figura de marketing, moldada desde sempre para vender produtos, bons ou ruins. Desta vez foi um produto excelente, mas será que realmente é preciso de uma figura como ela, de credibilidade altamente questionável, para que tal ganho fosse possível? Será que as tantas moças pobres e anônimas que sempre aparecem denunciando seus abusos tenham suas vozes diminuídas por serem "ninguém"?

Eu acho muito mais duro saber de uma dessas meninas que da Xuxa. A maior parte dessas meninas não tem uma vida que sequer se aproxima de "normal". Vejo nas salas de aulas meninas que se transmutam em seres sexualizados por causa da Xuxa e de seus atuais congêneres. Vejo meninas de 13 e 14 anos que acham que a coisa mais importante é parecer sexy. "Agradeço" a Xuxa por isso. Mas achar que a ela se deve o mérito de alavancar denúncias de abuso sexual... me perdoem, eu não acho que ela tenha credibilidade pública para tal.

Para mim, a credibilidade da figura pública de Xuxa se resume em uma piada que circula por aí... [http://a6.sphotos.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-snc7/399024_2749146466126_1781539866_1546755_1383512100_n.jpg]

E fica a pergunta que dá título a este "breve" texto, que é a mesma que pontua toda questão de ética desde que esta é pensada.

sábado, 28 de abril de 2012

PSICOSSOMATIZAÇÃO

Pressão no peito. Dor. Tontura, suor, tremores. Desorientação. Respiração ofegante. Falta de ar. Apneia.
Olhos abertos, retinas dilatadas, fixas.

Ainda a dor. Ainda o suor. Ainda a falta de ar.
A garganta seca. Os tremores.

A certeza de conhecer bem tais sensações e saber que estou longe de morrer devido a elas, pois acontece justamente o contrário.
Tudo isso é não mais que perceber que eu ainda transpiro. Respiro. Vejo. E que meu coração ainda está lá.

Já fazia tempos que eu não me dava mais conta disso e aconteceu novamente, como sempre, com minha desprevenção.
Estou vivo, e esta é uma constatação feliz e estranha.

Você, infarto e desfibrilador.

sábado, 21 de abril de 2012

PÚBERE

Ah, as revistas com belas moças desnudas estampadas em suas capas, páginas e pôsteres... Lembro de quando elas apareceram na minha vida... na verdade, elas simplesmente apareciam na minha casa (meu pai era assinante das duas principais publicações do país). Lembro também quando elas passaram a ter realmente importância para mim (ele tentava escondê-las, mas algum de vocês já tentou esconder dentro de casa uma Playboy de um adolescente? Pois é: um esforço fadado ao total fracasso).

Uma coisa me chamava a atenção quase tanto quanto as beldades nuas que até hoje povoam minhas lembranças e fantasias: os textos que, via de regra, acompanhavam as fotos. Devo dizer que eles eram auxiliares valorosos já que falamos em fantasiar... Além das fotos havia sempre uma exaltação da beleza da mulher, mas não "a beleza da mulher" de modo geral ou genérico. Era a beleza DAQUELA mulher em especial... não que a maioria delas precisasse ter sua beleza narrada ou explicada (ok, vamos ser sinceros... algumas das moças realmente precisavam), mas as frases não se prestavam a isso. Elas celebravam aquela mulher e eu, nós, leitores, igualmente celebrávamos extasiados.

Eu sempre percebia que, quando se tratava de alguma atriz ou cantora famosa ser a estrela da revista, tais apontamentos eram assinados por gente que eu conhecia! Compositores, escritores, diretores, seus colegas atores e cantores... sempre homens que conheciam e conviviam com aquelas deusas que, para mim, eram feitas apenas de vinil, celulóide, raios catódicos, papel, tinta e sonhos. Eles garantiam para nós não apenas a existência daquela beleza, mas também a singularidade de suas existências. E eles conseguiam transmitir a ideia de uma contemplação admirativa de modo claro: eles não possuiam aquelas mulheres. Eles lhes eram íntimos da forma mais cruel que a minha mente então pueril poderia conceber: eles eram seus amigos.

Com o passar dos anos eu posso sem nenhuma modéstia me orgulhar de uma coisa: ser amigo de muitas mulheres. Amigo mesmo. Peço desculpa aos meus camaradas do sexo masculino, mas é notória a minha preferência por elas inclusive na amizade... Devo agradecer também ao sem-número de meninas e mocinhas que, desde sempre, me disseram: "eu gosto de você só como amigo". Sério, vocês não poderiam ter-me feito bem maior. Eu passei a entender tal condição como uma vantagem se não para conquistas, para meu aprendizado na vida. E sinto até pena de vários caras a quem vocês facilitaram demais o caminho e acabaram não aprendendo nada não só sobre as mulheres, mas sobre as pessoas. A verdade é que sou completamente apaixonado pelas minhas amigas, e o acaso me permitiu ficar cercado das mais belas mulheres que eu talvez apenas sonhasse conhecer quando garoto. Talvez também ter me tornado (ainda que de modo incomparavelmente mais modesto e alternativo) um frequentador de meios artísticos possa ter contribuído...

Mas hoje as coisas mudaram um bocado. As publicações mudaram de mídia e a velocidade faz com que tudo se torne sobreposto e superexposto. Pouco restou do espaço contemplativo da beleza e pouco resta à imaginação fantasiar.... Menos que claro, tudo está óbvio demais.

E agora, na minha vida adulta, volto a sentir inveja daqueles que tiveram a oportunidade e o espaço para louvar as deusas e tranformá-las em musas, aproximando-nas de nós, meros mortais, dando-lhes veracidade... E lamento por esta geração que perdeu a oportunidade da poesia em meios tão inusitados.


Alan Robert
21-04-2012


[texto em loas ao sublime trabalho do fotógrafo Jorge Bispo em seu projeto Apartamento 302. vale a visita, vale o apoio. vale o bom gosto]

terça-feira, 10 de abril de 2012

VALE O ESCRITO

“Vale o escrito!”, diz um velho ditado. A importância de uma palavra escrita em um papel dá ao homem uma impressão de que coisas abstratas como a verdade, a moral e mesmo os sentimentos como o amor têm um lado concreto.
Tudo há que estar escrito. Em papiros, papéis; na pedra, nos muros; em uma camiseta ou sobre o couro; na história ou nas estrelas. O homem se encontra, se descobre e se reconhece na palavra escrita.
Desde o Decálogo, onde o próprio Deus teria escrito as leis para a humanidade, até as palavras ocas dos “Minutos de Sabedoria”, o homem é o que está escrito de si e para si. Partindo desse pensamento, pode-se dar ao objeto “livro” uma importância mágica, sagrada. Tê-lo em nossas estantes ou nossas mãos nos dá a certeza de ser alguém diferenciado do resto. Somos os portadores do conhecimento.
O livro tem também uma grande importância por conceder ao seu possuidor um certo status e o material físico do livro também. Uma edição comemorativa, capa de couro, bordas em ouro, não tem as mesmas palavras de uma outra? Sim, mas o objeto tem sua importância. É o poder de dizer: “Eu tenho a edição limitada de Les Misérables!”.
“Um país se faz com homens e livros”, disse Monteiro Lobato. Uma cidade, para ser respeitada, deve possuir uma grande biblioteca. Entre as grandes malfeitorias da História figuram episódios de queima de livros; o incêndio da Biblioteca de Alexandria, as queimas públicas de livros promovidas por Hitler e Mao, como a Inquisição fazia queimar as mulheres que acusavam de bruxas. Pode-se aleijar toda uma sociedade usando apenas a censura.
Há também uma apropriação afetiva desse objeto. É uma coisa que podemos chamar de nosso, abraçar, disputar sua posse (“Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu”¹), que podemos usar para construir não apenas uma casa, mas um lar (“Onde eu possa plantar meus amigos/ Meus discos e livros/ E nada mais”²).
Esse objeto que é maior que nós, que dependemos dele para garantir nossa palavra (“Juro sobre a Bíblia”, eu prefiro jurar sobre um bom dicionário).
Nos livros encontramos palavras que tomamos como nossas e as copiamos em nossos diários, nossa memória (e dizer de cor) e, hoje em dia, tatuar em nossa própria pele.
É o que somos, é o que eu sou. Estava escrito nos papiros, nos papéis; na pedra, nos muros; em uma camiseta, marcado em couro. Está escrito na História. Estava escrito nas estrelas. Está nos meus livros na minha estante.


“Os livros na estante já não têm mais tanta importância,
Do muito que eu li, do pouco que eu sei, nada me resta.”
(Léo Jaime)

(Tradução de Alan Robert de texto de 08 de abril de 2008 do mesmo autor)

¹BUARQUE, Chico. Trocando em Miúdos
²RODRIX, Zé. Casa no Campo

quarta-feira, 14 de março de 2012

(polaroid)

Uma série de coisas rápidas
Fast-food, nissin lámen
Propaganda subliminar
_ um momento, por favor _
Um átimo

Um rol de processos lentos
Um jantar, flores na mesa
Um livro a terminar
Um momento a ser rememorado

Fatos atemporais
O cigarro de depois
A palavra que faltou
O olhar correspondido

O momento que permaneceu
Uma foto, uma colagem

Uma rotina
Uma pintura

Um pretérito imperfeito
Ou mesmo um mais-que-perfeito
Feito de pretéritos perfeitos

Um fato
Uma coisa rápido
Um processo lento

O olhar correspondido
Um jantar, flores na mesa
O cigarro de depois...

_Um momento, por favor.


(2005)

quinta-feira, 8 de março de 2012

(isto não é um poema de amor, é apenas um) PEQUENO POEMA DE UM GOSTAR PERENE

Quando eu quase esqueço de como a acho linda, ela surge deslumbrante.

Quando eu quase esqueço de como a acho doce, ela se mostra um nicho de carinho.

Quando eu quase esqueço de como a acho inteligente, ela me apresenta pontos de vista que só ela poderia apresentar.

Quando quase esqueço de como a acho elegante, ela demonstra um estilo inigualável.

Quando quase esqueço de como a acho especial, ela expõe seu talento.



Quando me lembro do quanto gosto dela, ela me lembra do quanto isso é inviável.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ACREDITAR, EU NÃO

Todo dia eu acordo acreditando menos em tudo. E a cada dia que se segue as crenças que ainda me restam vão caindo, uma a uma, até minha hora de dormir e de novamente acordar crendo ainda menos. Cada vez mais perto de não acreditar em mais nada.

Alguns já me perguntaram como eu conseguia. Alguns já me tentaram convencer de que suas próprias crenças poderiam ser aplicáveis a mim. Alguns (até muito doutos, por sinal) já me disseram ser impossível não acreditar em nada. Pois eu lhes digo, caríssimos amigos e leitores: eu chego a não acreditar nem mesmo na minha existência, o que se dirá no que há além de mim. O que se dirá em vocês.

O que acontece é que para a esmagadora maioria, mesmo para os mais estudados, o ato de acreditar em algo é de suma importância, chegando a ponte de ser considerado fundamental, indispensável, fator sine qua non para concepção das coisas. Acho tão ingênuo as pessoas não entenderem que o contrário de acreditar não é desacreditar. Ora, a negação nada mais é que a afirmação do não. Nem mesmo isso eu ouso. Lembrem-se: o que se opõe à crença é a dúvida. E a "irmã" da dúvida é a curiosidade, mas é uma irmã meio preguiçosa... eu preciso acordá-la junto comigo!

É a curiosidade de saber a que ponto eu chegarei que me move, mais que qualquer coisa que eu posso vir a descobrir ou a (des)acreditar neste caminho. E sempre buscar saber os "comos", os "por quês", sempre contestando, sempre indo mais fundo, sempre nunca acreditando na resposta pronta, seja ela de onde vier. Seja de quem vier. Me permitam explorar todas as possibilidades que meu pensar permite e até além. Me deixem duvidar.

Me permitam não acreditar em conceito nenhum, nem mesmo no de vida. Me permitam acreditar que tudo que é humano é limitado. Me permitam duvidar até de meus próprios pensamentos, mas não me deixem de fazer vislumbrar as possibilidades que suas (tentativas de) explicações possam me dar. Apenas peço que entendam que eu irei duvidar e irei questionar.

Até o dia em que eu não precisar mais acordar nem duvidar de mais nada.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Composição

E eu, que não sou de escrever canções
Quando o faço, ainda são para você

Mesmo depois de tanto tempo,
Mesmo já não mais te conhecendo,
Mesmo nunca mais nos encontrando,
Tudo o que o meu coração lembra e sente
Me mostra o que, de algum modo, me faz vivo
E não sei se quero esquecer, nem sei se consigo

Porque eu, que não sou de escrever canções
Quando o faço, ainda são para você

Mesmo tão longe das ruas que conhecem nossa história
E de tudo aquilo que um dia fez parte de nós
Ainda me vêm teus olhos na memória e ainda ouço a tua voz
E o presente, que tento fazer com que seja novo
O que já foi ainda é e será, mas sei que, entretanto,
Nada disso importará muito quando ou se eu voltar

Mas eu, que não sou de escrever canções
Quando o faço, ainda são para você

domingo, 29 de janeiro de 2012

da ausência

Sinto falta de você passar de repente, me olhar, sorrir e dizer oi.
Sinto falta de você passar de repente, me olhar e sorrir.
Sinto falta de você passar de repente e me olhar.
Sinto falta de você passar de repente.
Sinto falta de você passar.
Sinto falta de você.
Sinto falta.

Até mesmo da mera possibilidade.

(28.01.2012)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

EU NUNCA

Eu nunca mais vou dizer que te amo.
Eu nunca mais direi nada que seja parecido, seja em que língua for.
Eu sequer demonstrarei por gestos ou olhares.
[dose]

Eu nunca mais escreverei poemas, cartas, tampouco um bilhete.
Nem mesmo dedicarei ou cantarei ou comporei temas ou canções
que evoquem você ou qualquer lembrança que eu possa ter.
Muito menos ouvirei ou ainda dançarei contigo aquela canção.
[dose]

Mas você já me conhece o suficiente
para saber das minhas verdades.
E continuará sabendo que, mesmo no silêncio
e até mesmo na omissão,
Eu nunca deixarei de ser aquele a quem você pode recorrer.
Eu nunca deixarei de ser aquele com quem você pode contar.
[sua dose]

O que é não deixará de ser.
Não deixará de ser nunca.
Apenas deixará de ser para sempre.
[brindemos]

Beijo.
Boa noite.
Durma bem.