sábado, 21 de abril de 2012

PÚBERE

Ah, as revistas com belas moças desnudas estampadas em suas capas, páginas e pôsteres... Lembro de quando elas apareceram na minha vida... na verdade, elas simplesmente apareciam na minha casa (meu pai era assinante das duas principais publicações do país). Lembro também quando elas passaram a ter realmente importância para mim (ele tentava escondê-las, mas algum de vocês já tentou esconder dentro de casa uma Playboy de um adolescente? Pois é: um esforço fadado ao total fracasso).

Uma coisa me chamava a atenção quase tanto quanto as beldades nuas que até hoje povoam minhas lembranças e fantasias: os textos que, via de regra, acompanhavam as fotos. Devo dizer que eles eram auxiliares valorosos já que falamos em fantasiar... Além das fotos havia sempre uma exaltação da beleza da mulher, mas não "a beleza da mulher" de modo geral ou genérico. Era a beleza DAQUELA mulher em especial... não que a maioria delas precisasse ter sua beleza narrada ou explicada (ok, vamos ser sinceros... algumas das moças realmente precisavam), mas as frases não se prestavam a isso. Elas celebravam aquela mulher e eu, nós, leitores, igualmente celebrávamos extasiados.

Eu sempre percebia que, quando se tratava de alguma atriz ou cantora famosa ser a estrela da revista, tais apontamentos eram assinados por gente que eu conhecia! Compositores, escritores, diretores, seus colegas atores e cantores... sempre homens que conheciam e conviviam com aquelas deusas que, para mim, eram feitas apenas de vinil, celulóide, raios catódicos, papel, tinta e sonhos. Eles garantiam para nós não apenas a existência daquela beleza, mas também a singularidade de suas existências. E eles conseguiam transmitir a ideia de uma contemplação admirativa de modo claro: eles não possuiam aquelas mulheres. Eles lhes eram íntimos da forma mais cruel que a minha mente então pueril poderia conceber: eles eram seus amigos.

Com o passar dos anos eu posso sem nenhuma modéstia me orgulhar de uma coisa: ser amigo de muitas mulheres. Amigo mesmo. Peço desculpa aos meus camaradas do sexo masculino, mas é notória a minha preferência por elas inclusive na amizade... Devo agradecer também ao sem-número de meninas e mocinhas que, desde sempre, me disseram: "eu gosto de você só como amigo". Sério, vocês não poderiam ter-me feito bem maior. Eu passei a entender tal condição como uma vantagem se não para conquistas, para meu aprendizado na vida. E sinto até pena de vários caras a quem vocês facilitaram demais o caminho e acabaram não aprendendo nada não só sobre as mulheres, mas sobre as pessoas. A verdade é que sou completamente apaixonado pelas minhas amigas, e o acaso me permitiu ficar cercado das mais belas mulheres que eu talvez apenas sonhasse conhecer quando garoto. Talvez também ter me tornado (ainda que de modo incomparavelmente mais modesto e alternativo) um frequentador de meios artísticos possa ter contribuído...

Mas hoje as coisas mudaram um bocado. As publicações mudaram de mídia e a velocidade faz com que tudo se torne sobreposto e superexposto. Pouco restou do espaço contemplativo da beleza e pouco resta à imaginação fantasiar.... Menos que claro, tudo está óbvio demais.

E agora, na minha vida adulta, volto a sentir inveja daqueles que tiveram a oportunidade e o espaço para louvar as deusas e tranformá-las em musas, aproximando-nas de nós, meros mortais, dando-lhes veracidade... E lamento por esta geração que perdeu a oportunidade da poesia em meios tão inusitados.


Alan Robert
21-04-2012


[texto em loas ao sublime trabalho do fotógrafo Jorge Bispo em seu projeto Apartamento 302. vale a visita, vale o apoio. vale o bom gosto]

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