Há alguns dias, uma nova amiga, em um momento
de desabafo (por conta de uma decepção com alguém e problemas decorrentes
disto), pergunta "deve ser muito ruim saber que voê errou feio com alguém,
né?". Mesmo sabendo que se tratava de uma pergunta retórica, que não
precisava de mais que uma resposta que cumprisse a função fática, ou seja,
permissiva para a continuidade da fala, meu ímpeto foi o de dizer "sei
como é isso melhor do que ninguém", mas não o fiz, inclusive porque ela
precisava dar prosseguimento ao seu desafogo e à sua catarse.
Pouco tempo depois, uma dessas pessoas com as
quais eu já "errei feio" me fez uma pergunta de sopetão. Para ela a
questão fora corriqueira e até inocente, mas houve uma lacuna de
contextualização que me congelou por me rememorar tais erros. Só depois eu fora
esclarecido que o contexto da pergunta era outro, mas é isso que é ter a
consciência do erro.
E tempo todo, em nossos dias, inclusive hoje,
vemos uma exacerbação do ser feliz em sua forma mais egoísta e imediata. A
regra (que não é nada nova, não é, Piaf?) é a do “je ne regrette rien”. Vou na
contramão. Faço questão dos meus arrependimentos. Não os esqueço, sob o custo
de cometer os mesmos erros e ainda assim os cometo. Eu gostaria de verdade de
achar que, como diz a canção, “eu não posso causar mal nenhum a não ser a mim
mesmo”, mas eu sei que tenho capacidade de fazer males a outras pessoas também
e já fiz, e boa parte delas ter sido descuido, desleixo ou algo realmente
involuntário não me exime da tomada de consciência, o que se dirá do que eu já
tenha alguma noção ao fazer. E há dias em que os principais erros pesam de
forma mais contundente
É-me estranha uma
sociedade em que todos são tão únicos e tão especiais... mas isso tampouco
chega a ser alguma novidade, não é mesmo, Fernando Pessoa? Quem dera a mim
também ouvir de alguém a voz
humana que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; que
contasse, não uma violência, mas uma cobardia... Estou igualmente farto se
semideuses inimputáveis. que
contasse, não uma violência, mas uma cobardia... Estou igualmente farto se
semideuses inimputáveis.
Mas não, nem tudo é só arrependimento. Há
momentos dos quais há o que se orgulhar e, na maior parte do tempo, a
ambiguidade e o nada. Mas esses ficam para um outro dia, um outro texto. Hoje
eu fico com o que me arrependo e revendo onde e com quem eu posso ter errado,
justamente para poder tentar me melhorar. E, ainda assim, saber que só poucas
vezes isso dá efetivamente dá certo.
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