segunda-feira, 5 de setembro de 2011

OLHOS

“Esta fonte já está seca!”, grita um dos tantos eus que me habitam.

Tal improdutividade faz com que nada mais verta e que o que ainda existe de resto, se ainda existir, seja impróprio. Falta ainda determinar a causa da inutilização deste olho d’água; pode ter sido tanta coisa, como um grande período de seca, poluição, o uso inadvertido de seus recursos ou até um excesso de permeabilidade da terra. Muitas vezes o conjunto de diversos fatores. Às vezes é melhor não saber.

...

A catarata que me embota os olhos da alma turva tanto a percepção do que está à minha frente quanto a expressão de tudo o que um dia eu já tenha sentido, mas a cegueira me conduz a estar mais atento aos outros sentidos, em especial o tato e o paladar para o sentir do frescor e do gosto de águas que jorram de outras fontes em tanto volume e limpidez que torna-se impossível contê-las e só me resta deixar-me levar por esta nova catarata.

...

Minha miopia embaça minha visão desde tanto tempo que não tenho como saber o que eu seria sem ela. Será uma vantagem tão grande assim prescindir de lentes para perceber os contornos de tudo que nos é distante? Ora, mas já não sabemos que contornos são ilusões? Ainda há o detalhe de que nos aproximamos para ver bem aquilo que queremos ver bem, não somos inadvertidamente invadidos por visões muito extremamente definidas inclusive daquilo que não nos interessa.

Mesmo meus olhos no espelho, quando tenho que me aproximar bem para ver minha pupila, que não posso ver sem o auxílio de um espelho. Que não posso delinear se o espelho estiver distante.




(para Ana, meu espelho renovado e melhor, minha pupila, minha parceira, meu abraço e minha amiga)

Um comentário:

Ana disse...

Um abraço, meu tutor.

(f)