terça-feira, 11 de março de 2008

16/02/2008 (ou Bouleversement)

Alan Robert

Uma grande mariposa entrou pela janela da sala
Ao invés de ir para a luminária e ficar girando
Foi para um canto da estante e lá ficou
Parece que ela queria mais se enconder, se camuflar

Eu não a vi entrar

Estava deitado e ouvia o bater de suas asas
Enquanto se encaixava entre os vãos do móvel.
Aquele barulho me irritava.
Eu pensava "de onde diabos vem essa zoada?"
E me pus a procurar a sua origem

Então a vi.
No canto da parede, próxima ao chão
Marrom como a madeira da estante
Um inseto grande, belo e forte
Mas sua busca por um lugar para repousar me incomodava
Pensei "Onde estará Alfred quando preciso dele?"
Alfred é uma lagartixa que usa minhas paredes como lar
E fonte de alimento com pequenas aranhas e mosquitos.
Pobre Alfred
A mariposa era maior que ele e certamente o engasgaria
Se ele avançasse contra ela talvez morressem os dois

Eu não queria isso

Tenho uma especial afeição por lagartixas e lepidópteros,
Em especial os noturnos.
Os primeiros por sua função ecológica e urbana
E por seus pequenos dedos e olhos;
Os segundos por sua beleza e simbolismo.

Alfred não apareceu e a mariposa aquietou-se
E eu, enfim, os esqueci e dormi.

Ao acordar a procurei e não a encontrei.
Melhor assim.
Segui minha vida e fui trabalhar.
Isso foi há duas noites e ainda busco o bater das asas da mariposa.
Que tipo de vida faz um homem buscar em seu apartamento
O bater das asas de uma mariposa?

Talvez solidão.

Mas a constatação de que algo tão banal
Pode revirar de forma tão pungente um cotidiano
Assombra.

Espero que a mariposa tenha repousado em meu lar.

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