Estava esperando o dia
certo para aquela foto, já planejada. Seria o retrato da solidão, da desolação,
do isolamento, da perda de contato da hodiernidade construída por concreto,
asfalto e tecnologia.
Já havia algumas semanas
que ele havia percebido aquele cenário. Uma velha praça no meio de um dos
bairros mais movimentados da cidade. Já não era mais frequentada para passeios,
só era usada, em uma de suas bordas, a que ficava na avenida principal, como
ponto de ônibus, mas seu interior mal era tido como mero corte de caminho para
alguns, o que se dirá alguma pausa.
O dia era aquele.
Amanheceu muito nublado, o ar estava naturalmente cinza (se é que se pode
atribuir à natureza o tanto de poeira suspensa no ar), por volta das 10 horas a
luz estaria no ponto certo. Não usaria nenhum desses filtros e calibrações
posteriores da fotografia atual. As cores esmaecidas seriam exatamente o que a
lente captaria. Seria um refugo orgânico registrado por um equipamento
analógico e divulgado em meio digital.
O velho banco de
concreto, esquecido e com algumas pichações, era o personagem escolhido para
refletir todo esse desamparo.
Lá estava o tripé
apontado para o alvo, quase tudo verificado, apenas uma decisão restava a ser
tomada na hora, se seria melhor fotografar com o vento dando um efeito de
movimento nas folhas ou esperá-las assentarem para o clique. Um único clique.
Então aparece aquele
casal, sorridente, com aquele carrinho de bebê decorado com uns balões, tudo
muito colorido, mesmo e apesar do cinza do dia. Se sentam, a mulher pega o bebê
e o embala e o seu companheiro observa enternecido os dois.
Estragaram tudo: a foto perfeita e o dia.
Estragaram tudo: a foto perfeita e o dia.
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