Hoje pela manhã eu tive que dar
uma boa organizada aqui no meu pequeno espaço.
Papéis, meias, livros, instrumentos musicais, sapatos e camisas por todo
canto, como se tivessem sido atirados de um avião sem nem mesmo estarem em um
contêiner. Mal se podia caminhar sem o risco de pisar em algo. Não saberia
dizer quantos minutos já viraram horas perdidas procurando coisas triviais e
óbvias como a carteira de motorista ou minhas chaves.
Há poucos dias uma amiga me falou
que um quarto pode até estar arrumado, mas se a cama estiver bagunçada, anula todo
o entorno. O efeito também é inversamente correspondente: Se a cama estiver
arrumada, a ideia de organização contaminará o ambiente, ainda que haja cuecas
jogadas sobre abajures ou em cima do computador. Minha cama estava mesmo
merecendo especial atenção, pois já não me dava sequer condições de dormir nela,
tamanha a quantidade de coisas acumuladas.
Há quinze anos deixei de dormir
no meio da cama, que era de solteiro, para dormir do lado esquerdo (se deitado
de costas, olhando para cima). A cama passara a ser de casal.
Já se passaram nove anos desde
que eu poderia voltar a dormir no meio da cama, mas não consigo... Ainda teimo em ocupar unicamente o espaço da
esquerda e vou, compulsiva e quase compulsoriamente, ocupando o outro lado com
roupas, livros, equipamentos eletrônicos, instrumentos musicais, qualquer coisa
que não seja a lembrança de um travesseiro vazio.
Semanas de acúmulos se
justificam. A bagunça generalizada me incomoda, mas muito menos que a cama
arrumada me dói.
Já passa da hora de ir dormir e
eu a encaro e preparo algumas armas. Não posso ir sem recursos. Reiniciarei o
processo com algumas provas e canetas e a prateleira móvel. Deixarei o
computador portátil a postos também.
Há duas horas estou tentando me
convencer de que este texto é só mais uma crônica.
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