sábado, 12 de outubro de 2013

DISPOSOFOBIA


Hoje pela manhã eu tive que dar uma boa organizada aqui no meu pequeno espaço.  Papéis, meias, livros, instrumentos musicais, sapatos e camisas por todo canto, como se tivessem sido atirados de um avião sem nem mesmo estarem em um contêiner. Mal se podia caminhar sem o risco de pisar em algo. Não saberia dizer quantos minutos já viraram horas perdidas procurando coisas triviais e óbvias como a carteira de motorista ou minhas chaves.

Há poucos dias uma amiga me falou que um quarto pode até estar arrumado, mas se a cama estiver bagunçada, anula todo o entorno. O efeito também é inversamente correspondente: Se a cama estiver arrumada, a ideia de organização contaminará o ambiente, ainda que haja cuecas jogadas sobre abajures ou em cima do computador. Minha cama estava mesmo merecendo especial atenção, pois já não me dava sequer condições de dormir nela, tamanha a quantidade de coisas acumuladas.

Há quinze anos deixei de dormir no meio da cama, que era de solteiro, para dormir do lado esquerdo (se deitado de costas, olhando para cima). A cama passara a ser de casal.

Já se passaram nove anos desde que eu poderia voltar a dormir no meio da cama, mas não consigo...  Ainda teimo em ocupar unicamente o espaço da esquerda e vou, compulsiva e quase compulsoriamente, ocupando o outro lado com roupas, livros, equipamentos eletrônicos, instrumentos musicais, qualquer coisa que não seja a lembrança de um travesseiro vazio.

Semanas de acúmulos se justificam. A bagunça generalizada me incomoda, mas muito menos que a cama arrumada me dói.

Já passa da hora de ir dormir e eu a encaro e preparo algumas armas. Não posso ir sem recursos. Reiniciarei o processo com algumas provas e canetas e a prateleira móvel. Deixarei o computador portátil a postos também.

Há duas horas estou tentando me convencer de que este texto é só mais uma crônica.

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