terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ACREDITAR, EU NÃO

Todo dia eu acordo acreditando menos em tudo. E a cada dia que se segue as crenças que ainda me restam vão caindo, uma a uma, até minha hora de dormir e de novamente acordar crendo ainda menos. Cada vez mais perto de não acreditar em mais nada.

Alguns já me perguntaram como eu conseguia. Alguns já me tentaram convencer de que suas próprias crenças poderiam ser aplicáveis a mim. Alguns (até muito doutos, por sinal) já me disseram ser impossível não acreditar em nada. Pois eu lhes digo, caríssimos amigos e leitores: eu chego a não acreditar nem mesmo na minha existência, o que se dirá no que há além de mim. O que se dirá em vocês.

O que acontece é que para a esmagadora maioria, mesmo para os mais estudados, o ato de acreditar em algo é de suma importância, chegando a ponte de ser considerado fundamental, indispensável, fator sine qua non para concepção das coisas. Acho tão ingênuo as pessoas não entenderem que o contrário de acreditar não é desacreditar. Ora, a negação nada mais é que a afirmação do não. Nem mesmo isso eu ouso. Lembrem-se: o que se opõe à crença é a dúvida. E a "irmã" da dúvida é a curiosidade, mas é uma irmã meio preguiçosa... eu preciso acordá-la junto comigo!

É a curiosidade de saber a que ponto eu chegarei que me move, mais que qualquer coisa que eu posso vir a descobrir ou a (des)acreditar neste caminho. E sempre buscar saber os "comos", os "por quês", sempre contestando, sempre indo mais fundo, sempre nunca acreditando na resposta pronta, seja ela de onde vier. Seja de quem vier. Me permitam explorar todas as possibilidades que meu pensar permite e até além. Me deixem duvidar.

Me permitam não acreditar em conceito nenhum, nem mesmo no de vida. Me permitam acreditar que tudo que é humano é limitado. Me permitam duvidar até de meus próprios pensamentos, mas não me deixem de fazer vislumbrar as possibilidades que suas (tentativas de) explicações possam me dar. Apenas peço que entendam que eu irei duvidar e irei questionar.

Até o dia em que eu não precisar mais acordar nem duvidar de mais nada.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Composição

E eu, que não sou de escrever canções
Quando o faço, ainda são para você

Mesmo depois de tanto tempo,
Mesmo já não mais te conhecendo,
Mesmo nunca mais nos encontrando,
Tudo o que o meu coração lembra e sente
Me mostra o que, de algum modo, me faz vivo
E não sei se quero esquecer, nem sei se consigo

Porque eu, que não sou de escrever canções
Quando o faço, ainda são para você

Mesmo tão longe das ruas que conhecem nossa história
E de tudo aquilo que um dia fez parte de nós
Ainda me vêm teus olhos na memória e ainda ouço a tua voz
E o presente, que tento fazer com que seja novo
O que já foi ainda é e será, mas sei que, entretanto,
Nada disso importará muito quando ou se eu voltar

Mas eu, que não sou de escrever canções
Quando o faço, ainda são para você