Ao te rever, não me pergunte o que eu gostaria de fazer. Se você me perguntar o que eu gostaria de fazer, eu diria que gostaria de te levar à minha cidade, não para conhecer os lugares históricos ou mesmo turísticos que ela possui. Eu te levaria aos meus lugares preferidos e contaria a história de cada um deles do ponto de vista mais pessoal possível. Diria coisas como "ali, antes de ser construído esse museu, era um mirante e meu pai trazia a mim e ao meu irmão para descemos essas ladeiras de bicicleta e de patins", "ali, naquele prédio, foi o meu primeiro emprego de carteira assinada, no qual não durei dois meses", "ali era uma loja de departamentos, onde comprei meu primeiro disco, e foi um dos Beatles", "esta é a estátua da pessoa que dá nome à rua em que eu morava lá onde nos conhecemos... sim, ele é daqui", e iria tentar te apresentar uma cidade histórica te enchendo com memórias afetivas. Por fim, eu te levaria para ver a Baía da Guanabara no ponto que acho mais bonito, vendo a capital inteira de frente e te contando por que eu precisava voltar e toda a minha vida até aqui, para que você soubesse mais de mim, de quem eu sou e de onde vim, para tentar te fazer gostar de mim mais uma vez.
E eu te diria que vinha observando você e achando muito bonito o que se tornou e que eu gostaria que você soubesse disso.
E, ao te rever, não me pergunte tampouco o que eu pretendo fazer. Se você me perguntar o que eu pretendo fazer, eu direi que pretendo ficar te olhando o quanto eu conseguir, para reter ainda mais essa imagem que nunca esqueci e que conseguiu estar ainda mais bonita do que sempre foi. Eu direi que pretendo lembrar do cheiro dos seus cabelos, do timbre da sua voz e da cor dos seus olhos quando olha para mim. Eu direi que pretendo ficar o tempo todo em silêncio, contrariando tudo o que eu gostaria de dizer e de te contar, e que eu pretendo que esse silêncio disfarce o tremor na minha voz e toda a ansiedade acumulada só por saber que estaria te revendo e que seria mais prudente - para mim e para você - se eu apenas ficasse em silêncio.
Mas se ao te rever você me perguntar o que eu vou fazer, eu não responderei. Eu apenas seguirei estando perto de você o quanto eu puder, o quanto eu conseguir sem ficar dando muita bandeira. E, quando você me perguntar novamente o que eu vou fazer, eu sorrirei e direi "eu vou para casa". E te darei um abraço, beijarei seu rosto e direi "foi bom te rever, viu?". Direi "fica bem e aproveite bastante", e isso será tão sincero quanto todas as coisas que eu gostaria ou pretendia, pois será dito com o mesmo amor que sempre existiu. E eu estarei feliz simplesmente por ter podido estar contigo.
E, talvez, chegando em casa, eu escreva sobre isso tudo. Talvez eu até envie esta carta para você. Mas, talvez, eu não envie. Talvez eu sequer escreva.
Pois, talvez, eu saiba (ou, pelo menos, goste de acreditar) que você já sabe de tudo isso.
E obrigado por me permitir estar contigo. Significa muito.
Esteja bem.
Um beijo.
E seja tão feliz quanto você puder ser, quanto você conseguir ser, quanto eu gostaria que você fosse. Quanto eu desejo que você seja.