"Ora, quem é
que não sabe
O que é se sentir
sozinho,
Mais sozinho que um
elevador vazio?"
(“Blues do Elevador” - Zeca Baleiro)
Já percebia que havia
algo estranho... não... não estranho... “diferente” quando pegava aquele elevador,
mas não sabia identificar o que seria aquilo, era apenas uma sensação.
Em um primeiro
momento, pensava ser só o fato de ser um prédio diferente, talvez a localização
tão litorânea causasse algum efeito atmosférico, talvez fosse apenas questão da
falta de costume com o prédio... mas não. A sensação permanecia. Algo estava
acontecendo.
Com o passar do tempo,
prestando mais atenção aos detalhes, percebera que o relógio do elevador nunca
estava certo. Algumas vezes a diferença era de alguns minutos, outras vezes era
até de horas, chegando a ser um horário de um outro período do dia. Os
elementos se somavam, mas ainda não faziam sentido.
Um dia, ao entrar no
elevador com o fone no ouvido, escutando um desses rocks setentistas cheios de
firulas instrumentais e logo após ter lido uma notícia sobre a série televisiva
inglesa Dr. Who, a ideia surge em tom de piada na mente e causa riso. Aquele
elevador era uma máquina do tempo. Hahahaha!
Mas... e se houvesse
alguma possibilidade de algo tão esdrúxulo ser real? Pensar assim fez com que
isso fosse tomando forma na cabeça, não de uma forma preocupante, mas até
lúdica. Explicações tão dignas dos piores filmes “B” quantos dos maiores
clássicos da ficção científica.
O que não dava para
imaginar era que essa ideia quase boba, quase saída de alguma história em
quadrinhos era a mais simples verdade. O elevador era uma máquina do tempo, mas
só agia sob determinadas condições e tinha algumas peculiaridades.
A viagem no tempo se
dava da seguinte forma: Quando as portas do elevador se fechavam, o seu
interior e o seu exterior passavam a ser tempos diferentes. Enquanto suas
portas estivessem fechadas, seu ambiente interno era levado para um outro
período, aleatoriamente. Poderia ser o passado ou o futuro, alguns segundos ou
séculos para frente ou para trás. Sempre que parava em algum andar para entrada
ou saída de pessoas, ao se abrirem as portas a sincronização com o tempo
exterior se restabelecia. O tempo não se distorcia, apenas se transferia para
outra época.
Não sabia se mais
alguém que pegasse aquele elevador fazia alguma ideia de que isso acontecia ou
mesmo se partilhava da mesma sensação. Falar sobre isso seria loucura. Mesmo
sem falar, já seria loucura. De todo modo, era melhor pegar o elevador sem mais
ninguém.
Mas como aproveitar
estar no ano de 1208 ou em 3425 se não havia como sair daquele cubículo cromado
de 110 x 90 cm? A única coisa que se podia fazer era respirar e pensar... e
torcer para que a viagem não fosse interrompida em nenhum andar em que a porta
se abrisse.
Essa subida para o seu
apartamento sempre foi um momento muito bem vindo de irrealidade em todo o
tempo-espaço.
“Entro no elevador,
Aperto o 12, que é o seu andar,
Não vejo a hora de te reencontrar”
(“All Star”
- Nando Reis)