segunda-feira, 23 de maio de 2011

ASSOMBRAÇÕES

Essa é uma casa mal-assombrada
habitada por um espírito,
Sombras de um passado e
cômodos abandonados
E os fantasmas
que ventam nas minhas janelas
no outono e na primavera
não me contam nada
que eu já não soubesse
nas outras estações

As vozes e aparições
que preenchem a casa diariamente
não me fazem companhia,
não opinam,
mas interferem

Cada cômodo respira
ofega
arfa
chia
O quarto fechado
o banheiro pinho
A cozinha com a louça
há tanto tempo que já cheira
A sala fumaça
cigarro
As roupas acumuladas
a serem lavadas
porque não há mais porque usá-las
limpas
Lençóis

Maçanetas que não abrem
Portas que não fecham
Janelas
Basculantes
um ou dois vidros quebrados

Essa é uma casa mal-assombrada
Habitada por um fantasma
fumaça
lençóis
ruídos
interferência
E os fantasmas que cantam
por entre os vidros quebrados
dessas janelas
não me ventam nada
que eu já não soubesse

(2005)