quinta-feira, 11 de outubro de 2007

UMA ÁRVORE

Alan Robert

Conheço gente que respeita árvores.
Conheço gente que até as abraça.
Sei de quem faça até ainda mais coisas.

Sei de povos que as cultuam.
Sei de tradições que as veneram.
Sei de gente que até as adota.

Sei de quem as tem como causa,
Mas também sei que há quem as derrube.
Sei de quem faça delas abrigo,
Mas sei também que há quem as queime.

Sei que há arvores ocas, mortas e petrificadas,
Mas uma coisa eu realmente sei sobre árvores:
Árvores não pensam,
Árvores não sentem.
Árvores são os usos que fazemos delas.

Seja para construir pontes ou barcos,
Seja para delas fazermos resmas e resmas
E para, nos papéis, escrevermos sobre elas
Ou as crianças as desenharem
E colarmos os desenhos nas portas de nossas geladeiras,
Árvores não deixam de ser coisas.

Hoje eu pensei uma árvore
Mas a árvore não me pensou.

17/09/2007

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OUTRA ÁRVORE, UMA PEDRA

Alan Robert

Não sou uma árvore.
Exalo gás carbônico.
Não tenho raízes fincadas na terra.
Não alimento ninguém com frutos.
Não durarei a idade dos séculos.
Em minhas veias corre sangue, não seiva.
Não sou capaz de proteger ninguém da chuva.
Não sou capaz de proteger ninguém do sol.
Talvez fosse melhor ser uma árvore.

Não sou uma pedra.
Não sou tão duro.
Não sou um elemento componente da Terra.
Não forneço elementos minerais.
Não durarei a idade das eras.
Em meu corpo há carne e músculos, não seixos sedimentados.
Não sou capaz de proteger ninguém do frio.
Não sou capaz de ferir ninguém como arma.
Talvez fosse melhor ser uma pedra.

Mas a árvore e a pedra não são.
A árvore e a pedra apenas existem.
E só existem porque eu as faço existir.
Só existem porque eu as entendo como tais.
Porque entendo a árvore como árvore
e a pedra como pedra.

Então talvez seja melhor continuar sendo.

17-18/09/2007

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